30 de junho de 2011

O Tejo e as suas margens




«Apesar de não ser natural nem residente em Cacilhas, é com uma certa nostalgia que recordo os anos 50 e 60, quando aos sábados e domingos ia a Cacilhas levar o almoço ao meu pai, motorista da Piedense e mais tarde da Transul e RN.

O prazer que dava, ir um puto de lancheira na mão levar o almoço ao pai. Oriundo da Graça, atravessando Alfama, desembocando no rio que atravessava, sentado num molho de cordas, junto da proa dos então frágeis cacilheiros, ouvindo o "cada cor seu paladar" e "estica a uma croa", é inolvidável.

Toda a azáfama do atracar e partir, o embarcar e desembarcar por inseguros estrados, ajudados pela mão solícita dos marinheiros/cobradores, ouvindo os piropos às moças, olhando espantado os golfinhos e as gaivotas que acompanhavam o barco, mirando de soslaio os passeantes domingueiros com um certo pretenciosismo que me dava a condição de alfacinha, admirando à distância o mestre que do alto do seu posto de comando emanava ordens, observando intrigado alguns vultos que no lodaçal vizinho apanhavam minhocas e escutando maravilhado e falsamente desinteressado as histórias de grandes pescarias de corvinas e congros neste Tejo que me parecia um mar.

Foi neste ambiente que moldei o meu amor pelo rio e pelas suas margens.»


Texto: Carlos Neves.
Fotografia: Bilhete Postal da colecção particular de Luís Filipe Bayó Veiga.

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